Revista TH Novembro - Dezembro - 2019
10 • A Revista Oficial da Terapia Holística O mesmo ocorre em nosso psiquismo: o que conhecemos de nós mesmos (memórias, sentimentos, desejos, vontades, etc, etc) é tão somente uma gota no oceano do Inconsciente (individual e coletivo), que continuamente age em nossa vida e com muito mais poder do que nosso Ego supõe. Tamanhoéestepoderioquepoderíamos interpretar como uma intervenção divina em nossas vidas, quando essa influência é percebida conscientemente. Ou seja, como algo fadado a acontecer, impossível de escapar: destino… Em árabe, temos o conceito de Maktub - aquilo que está escrito e, como tal, TEM que acontecer. De modo equivalente, em culturas grego-latinas, existe o “aquilo que está dito, que já foi falado”, ou seja, FATO, FATALIDADE, fadado a acontecer... Justamente daí deriva o nome anglo-saxão das mais conhecidas deusas do Destino: “ The Fates ”. Nos mitos grego-romanos, nominamos como Moiras , termo que significa “parcela que cabe a cada um” ou Parcas , palavra que identifica uma porção relativamente pequena, limitada de algo. Por ser trindade, é retratada como três irmãs que tecem o fio da vida, na roda da fortuna: uma inicia o fio da meada (nascimento…), outra mede e estipula o tamanho da linha, determinando o tempo e qualidade da vida e a terceira decide quando a morte chega, cortando a fiada. Tão corretas e justas são as suas decisões que nem os demais deuses ousam intervir. Maurizio Balsamo, em sua tese “Freud Et Le Destin”, identifica o uso do termo “destino” na psicanálise de duas formas: como a representação de uma impossibilidade de mudança e através da “compulsão do destino” (compulsão à repetição), onde se constata a recorrência de acontecimentos à revelia do sujeito. Compulsão do destino: designa uma forma de existência caracterizada pelo retorno periódico de encadeamentos idênticos de acontecimentos, geralmente infelizes, encadeamentos a que o indivíduo parece estar submetido como uma fatalidade exterior, quando, segundo a psicanálise, convém procurar as suas causas no inconsciente, e especificamente na compulsão à repetição. a) Elas são repetidas apesar do seu caráter desagradável; b) Desenrolam-se segundo uma encenação imutável, constituindo uma sequência de acontecimentos que pode exigir um longo d e s e n v o l v i m e n t o temporal; c) Surgem como uma fatalidade externa de que o indivíduo se sente vítima. (Laplanche & Pontalis, 1970) Para Freud, a meada que determina o destino encontra-se nos impulsos inconscientes, determinados pelo próprio sujeito a partir de influências que advém da primeira infância. Jung, por sua vez, amplia o conceito, somando aos impulsos adquiridos para o inconsciente pessoal, a um universomuitomais amplo e pré-existente, sendo o Inconsciente Coletivo (tal como uma “Alma Do Mundo”...) um legado histórico da humanidade, pré-existente. O homem “possui” muitas coisas que ele nunca adquiriu, mas herdou dos antepassados. Não nasceu “tabula rasa”, apenas nasceu inconsciente.
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